Relato Perdido de Ghórkom

Meu nome não importa mais. Não sei quanto tempo estive em Ghórkom. O céu não muda, o ar fede a metal queimado e o som... Deus, o som nunca para.

Cheguei aqui seguindo sinais que pareciam destinados apenas a mim. Uma carta anônima, um sussurro numa rua vazia. Quando percebi, não havia mais estradas para fora.

As pessoas - se é que posso chamá-las assim - me observavam de janelas partidas, murmurando palavras que minha mente recusava entender. Vi carne brotando das paredes, bocas abertas onde deveriam haver tijolos.

Três noites após minha chegada, a cidade me mostrou seu verdadeiro rosto. Vi uma torre sangrenta crescer diante dos meus olhos. Vi homens rastejando como insetos, buscando por algo que jamais deveriam encontrar.

Me escondi numa casa vazia, que parecia... viva. Ela sussurrava meu nome, prometendo calor, prometendo esquecimento. Mas resisti.

Não sei como escapei. Talvez não tenha escapado. Talvez esteja sonhando. Talvez você esteja lendo isto porque a cidade já está em você.

Se ouvir batidas na porta quando deveria estar sozinho, não abra. Se sentir seu nome sendo chamado pelo vento, não responda. Ghórkom quer você. Ghórkom não esquece.

Eu ainda ouço o som do gerador.
Eu ainda sinto o cheiro de carne podre.
Eu ainda sonho com a torre vermelha.